terça-feira, maio 01, 2007

Henrique Fialho sobre a Big Ode #0, no Blog Insónia

13.2.07

Big Ode #0

A Big Ode é uma revista recente, cujo número 0 saiu em Outubro passado. Dado tratar-se de uma edição trimestral, não sei se, entretanto, saiu mais algum número. Como só muito recentemente me chegou às mãos este tomo inaugural, dou agora conta da minha leitura. No editorial, Rodrigo Miragaia (n. 1969) – formação em Pintura e Realização Plástica – apresenta a Big Ode como uma revista que procura «ideias que ficam para trás, sem rumo, sem desenvolvimento». É uma forma interessante de colocar o problema das vanguardas, essas antecipações do futuro que morrem sempre no momento da sua estruturação, quando alguém as tenta cristalizar em conceitos definitivos e definições conceptuais. Revistas como a Big Odebrainstorming, no campo de batalha das ideias. Daí me parecer feliz a opção, expressa no editorial, por uma pesquisa anterior ao resultado, por um esboço antes da construção. Do género, em terras lusas, não se vê muito. Penso na Bíblia, da qual a Big Ode se distingue pelo formato maior e pela opção bilingue. Não sei se devido ao tema deste número - a poesia -, mas, em termos literários, a tendência é, claramente, para o experimental, para o chamado poema visual e concreto. Nesse sentido, a Bíblia, que já vai com uns anitos, possui uma abrangência que a Big Ode poderá vir a confirmar ou a contrariar nos próximos números. A ver vamos. Entre as duas revistas conflui, no entanto, a opção por um design que procura dialogar com o texto colocando-se ao mesmo nível deste. A leitura pode, por vezes, ser dificultada pelo excesso de imagens e pela disposição dos textos na página, embora não deixe de ser um regalo para à vista folhear páginas onde se encontra um pouco de tudo o que não se vislumbra em mais lado algum. De resto, a esmagadora maioria dos colaboradores provêm das áreas do Design e das Artes Plásticas. Além dos trabalhos do editor Rodrigo Miragaia, encontramos neste número uma entrevista informal a Tiago Gomes, poeta e editor da supracitada Bíblia, acompanhada de alguns poemas do autor de Viola-me Eléctrica. Carla Carbone apresenta com brevidade o percurso de Salette Tavares (1922-1994), um dos nomes consagrados da poesia experimental portuguesa, enriquecendo o texto com uma antologia de poemas da autora visada que inclui, entre outros, representações de Brincadeiras (1966) e Parlapatisse (1965). Há, ainda, trabalhos de Gonçalo Cabaça, Fernando Aguiar, Maria João Lopes Fernandes, António Salvador e Elsa Lima. A revista termina com breves notas biográficas acerca de alguns (?) colaboradores. Deixo aqui um pequeno poema assinado por Raquel Coelho, que na edição original aparece ilustrado por Pedro Morgado:

FRACÇÃO
Trechos desarreigados do seu contexto original

Amanhece de tal forma que a luz cega.
Logo hoje o sol… onde estão os óculos
escuros?
Não vejo nada estou desfigurada
No espelho vejo as voltas da valsa
Vai, vem, roda, roda
E volta a embriaguez.
Vómito, vómito e suor
E as notas desencontradas do
free-jazz e suor a bílis

Fígado e free-jazz
assumem, de facto, a função valiosa da experimentação que consiste na ousadia do passo à frente, na tomada de posição dianteira, quase em registo de

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